Embora este texto não estivesse no roteiro da newsletter, estava querendo escrever algo mais profundo nestes dias, talvez, pela perda recente que sofri. (Perdi uma amizade para a distância emocional). No entanto, percebi que ainda não estou preparada para escrever nada, mas, na verdade, preciso entender ainda o que estou sentindo e respeitar este momento. Então, entendi, que deveria ser sobre essa linha que eu deveria seguir, sobre respeitar meus sentimentos e não colocar peso neles.
Por muitas vezes, me peguei escrevendo cartas para essa pessoa e tentando traduzir aquilo que ainda não tem nome. Também, me peguei escrevendo para mim mesma e tentando me explicar o que estaria acontecendo.
Não sei se estou triste, com raiva, decepcionada, desapontada, feliz, não sei o que sinto, então como posso querer escrever? Também sei que, como escritores, as palavras nos ajudam a entender nossos sentimentos. Mas e quando esses sentimentos não querem se fazer traduzidos? Pelo menos não, por agora.
Em alguns momentos de nossas vidas, passamos por situações que nos deixam sem saber o que pensar ou sentir. Pode ser um momento muito feliz ou muito triste como uma perda. Nestes momentos, tentamos continuar vivendo como se nada estivesse acontecendo, mas nessas três décadas de vida, se tem algo que aprendi é que quanto mais foge de sentir algo, mais esse sentimento vai perseguir você.
Nestes últimos dias, tenho sentido muito em pouco tempo. Em alguns momentos, não quero comer. Em outros, como demais. Em alguns momentos, não quero dormir. Em outros durmo demais. Em alguns momentos, não quero lembrar que existe trabalho. Em outros, só quero me sentir produtiva.
Em resumo, sinto que estou buscando me sentir viva, permanecer viva, e entender que isso é um momento muito difícil, mas que vai passar. E isso é a parte mais feliz dos meus dias sabe? Depois de tantas experiências, eu sei que isso também vai passar. Pode até me deixar acorrentada por um tempo, mas vai passar.
Enquanto não passa, sigo deixando os sentimentos falarem por si só, mas não deixo tomar conta de mim para que eu não me reduza a eles.
Eles funcionam dessa forma, não aceitam ser ignorados, mas, também, não podemos dar toda a liberdade que os sentimentos desejam, ou estaremos fadados ao fracasso de sua engrenagem.
Talvez eu tenha falado muito sem dizer nada, mas, como eu disse, ainda não sei o que sinto. Mas perder uma amizade de vinte e um anos, te faz reciclar uma vida inteira dentro de você, mas, você precisa sentir isso para não se perder de você.
E ao contrário do que pregam por aí, não engula o que sente para caber na expectativa dos outros, tem dias que chorar é tudo o que você precisa para que o seu sorriso volte a ser como será ou até melhor. Existem perdas que nos ajudam a seguir por caminhos que não conheceríamos se aquela pessoa ainda estivesse ao nosso lado.
Talvez, algum dia, eu me sinta pronta para falar mais abertamente sobre isso e até traga conselhos clichês sobre como não se deve confiar nas pessoas. Ou talvez, eu nunca me sinta preparada já que na realidade possa me sentir honrada por ter uma melhor amiga por tantos anos.
Seja como for, independente do que você estiver passando, isso também passa, tudo bem? Enquanto não passa, respeite seu tempo, se respeite. Existem tantos cursos por aí, mas, nenhum deles, ainda conseguiu nos ensinar sobre como nos afastarmos de quem ainda queremos bem.
Espero que essas palavras te acolham de alguma forma.
Com carinho,
Joyce Silveira
Joyce, você me disse num texto meu, que minhas palavras te acolheram. E eu te digo que as tuas palavras falaram comigo de alma para alma. Entendo, em parte, o que você está vivendo. Também tive uma perda recente — outro contexto, mas a mesma sensação de se sentir sem chão e fora do lugar, a mesma necessidade de mergulhar nos sentimentos para entender e conseguir seguir em frente. Não é fácil, mas é libertador. E, como você disse, nós que amamos escrever, conseguimos nos encontrar quando colocamos os sentimentos no "papel", mesmo que de forma meio desordenada. Vou deixar o link do meu texto aqui, caso você ache que possa te ajudar no teu processo por aí: https://deboraraubach.com/a-dor-inesperada-de-um-adeus-esperado/
E se quiser conversar, pode enviar uma mensagem in box.
Me identifiquei muito com o que você escreveu, Joyce! Também passei pelo rompimento de uma amizade de quase 30 anos há algum tempo e isso ainda faz muitas reflexões brotarem por aqui.